Há duas formas possíveis, por parte de quem oferece chucha ao seu bebé, de encarar este post:
- Não saber de alguns factos, passar a sabê-los e decidir acabar com ela;
- Não saber de alguns factos, passar a sabê-los e continuar.
Incluo-me no primeiro grupo. Sim, dei chucha desde o segundo dia de vida do Vicente (foram sempre decisões em casal, mas torna-se mais fácil escrever na primeira pessoa, se me permitem :)). Porque sim. Não mais a retirei, até há cerca de 1 mês atrás, tinha o Vi 15 meses.
Peço-vos que interpretem o que se segue da forma como me predispus a interpretar a aula sobre “chuchas”, no curso de assistente Montessori: de mente aberta, sem melindres e, principalmente, sem vitimizações. Não tentem encontrar desculpas para justificar ações que escolheram ou escolhem ter. Sim, nós escolhemos prolongar o uso da chucha pelos nossos filhos e não é por termos optado por essa via, que a devemos defender como a mais acertada.
O objetivo não é tornar a opção pelo uso de chucha num ponto de discussão, nem vou tentar argumentar convosco o que quer que seja. Se querem dá-la ao vosso bebé/ criança, dêem, é um assunto vosso. Quero apenas que conheçam os factos que conheci, porque conhecimento é poder ;).
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“Porque consideramos normal o uso de chucha?”
“Se não consegues gostar de um filho o suficiente para o quereres ouvir “falar”, porque decides ter filhos?”
(estas questões são retóricas e vão simplesmente ficar aqui a flutuar)
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Alguns bebés nascem com uma maior necessidade de sucção do que outros. Em especial aqueles que não são amamentados, poderão mesmo precisar de extra-sucção, uma vez que a força necessária para mamar é bastante maior do que a utilizada na tetina do biberão. E, biologicamente falando, essa força é necessária para o desenvolvimento dos músculos e formação da própria cara do bebé. A sucção está, assim, e desde sempre, apenas relacionada com a obtenção de leite, não com a procura por estados de maior tranquilidade e calma.
Aos bebés com essa necessidade extra de sucção, devemos sim oferecer chucha, mas não nos moldes que normalmente fazemos (a toda a hora). Devemos pegar no bebé, tal como se o fôssemos amamentar, colocar a chucha durante uns minutos e, assim que a sucção parar ou acalmar, tirá-la. Apenas isso.
Por volta dos 5/6 meses, dá-se o aparecimento dos dentes, o bebé começa a sentar-se mais direito e ganha enzimas para a digestão de novos alimentos. Estas são as modificações que nos indicam que, gradualmente, o bebé transita de uma necessidade de sucção, para uma necessidade de mastigação. A partir de certa altura, a mastigação deverá mesmo sobrepôr-se à sucção, uma vez que (a Natureza é perfeita…) o movimento de “sobe e desce” do maxilar ao mastigar, é um dos principais treinos para a aquisição da fala.
E, se a Mãe Natureza colocou todas estas fases na sequência certa, torna-se claro que, a partir dos 5/6 meses, o bebé deixa de ter a necessidade de extra sucção – agora, a sucção que obtém com a amamentação/ tetina, que continua a existir, é mais do que suficiente para aquilo que, biologicamente, ele necessita.
E é aqui que os pediatras deviam demonstrar mais know-how e aconselhar-nos a parar. Mas nem vamos entrar por esses caminhos…!
A partir dos 6 meses, não há qualquer benefício ou utilidade no uso da chucha – torna-se apenas num hábito, efetivamente muito confortável para nós, já que muitas vezes funciona como um botão “mute”. E este é o momento em que volto a pensar nas perguntas que deixei a flutuar lá em cima…
Podemos oferecer tantas outras coisas, objetos para morder, de transição, podemos oferecer colo e embalar mais vezes o nosso bebé… Porque insistimos na chucha, que só se torna mais difícil de retirar à medida que o tempo passa, e um maior fator de risco para algumas infeções? Sim… é o próximo ponto: infeções no ouvido. A sucção contínua de chuchas (como um “stopper”/ calmante) aumenta a facilidade com que bactérias se propaguem nos canais auditivos, que ficam anormalmente dilatados. Crianças com mais de 12 meses que usam chucha têm 35% de probabilidade de terem este tipo de infeções, contra os 23% de crianças que não usam.
Também o índice de massa corporal se relaciona com tudo isto. Especialmente os homens, têm o dobro da probabilidade de terem sobrepeso, ao terem sofrido mais infeções no ouvido em crianças. A explicação na íntegra, Indre Viskontas (Neurocientista e Professor na Universidade de São Francisco) publicou-a no seu livro “Brain Myths Exploded: Lessons from Neuroscience”. Muito resumidamente: existe um nervo, no nosso corpo, o “chorda tympani” (corda do tímpano), que tem origem nas papilas gustativas dos 2/3 anteriores da língua e que segue, passando pelo ouvido médio, enviando mensagens para o cérebro. Se esse nervo foi “danificado” por repetidas infeções nos ouvidos, passará a enviar-lhes informações sensoriais deturpadas. E uma das modificações é a sensação acrescida de prazer ao saborear alimentos mais gordos. A pessoa tenderá a procurar satisfazer esta “necessidade” e a tendência é a que aumente ao longo do tempo. A partir daqui, já conseguimos fazer uma associação global.
E os factos são estes. Interiorizem-nos, interpretem-nos, e decidam. Tentem que seja um trabalho mais interno do que de partilha, porque só assim conseguem o à-vontade e a liberdade para chegar à própria consciência. Sem desculpas.
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A questão de chuchar no dedo
Foi uma questão levantada em aula e que também me pediram que abordasse aqui. Chuchar no dedo é apenas um hábito e não podemos simplesmente “pará-lo”, como fazemos com a chucha.
As estratégias para tentar diminuí-lo passam, primeiro que tudo, por ter muita paciência. Cada vez que o bebé chucha e depois quer fazer alguma atividade ou mexer em algum objeto, podemos criar o hábito de ter que lavar as mãos antes, explicando-lhe que não é higiénico nem seguro fazê-lo com as mãos húmidas e com saliva – e ajudamo-lo sempre a fazê-lo, da forma mais gentil possível. Esta “regra” não ofenderá o bebé/ criança e, com o tempo, tende a desmotivá-lo a chuchar (diz-nos a experiência de quem a aplica há quase 50 anos em contexto de escola Montessori).
Um relato muito interessante de uma mãe também nos fez saber que podem haver alterações da forma do palato que levam a que a criança coloque o dedo na boca na tentativa de alívio da pressão óssea que sente – um (bom) osteopata pode ser a solução imediata e eficaz (foi o que aconteceu no seu caso)!
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Para terminar este longuíssimo texto, queria apenas contar que a nossa experiência pessoal passou, simplesmente, por não oferecer mais a chucha ao Vicente. Não há argumentação possível junto de uma criança de 16 meses. Tudo se resume a retirá-la, estar disposto a passar 3 noites de horror, e ser presenteado com dias muito melhores, a partir daí. No nosso caso, houve um início de sono noturno muito difícil (os mais dramáticos diriam “horrível”), uma sesta matinal seguinte igualmente difícil, uma sesta da tarde mais fácil e, a partir daí, parece que o Vi nunca usou chucha antes. Adormece perfeitamente, dorme ainda melhor e irrita-se muito menos com o põe-tira-perde-encontra que acontecia muitas vezes antes do sono. E nós, acreditem, sentimo-nos muito melhor, por ele e pela nossa capacidade de segurar o barco e tomar as melhores decisões.