Quando tu te bastas

Desculpa se, muitas vezes, te bato palmas quando conquistas uma nova capacidade. Leste bem, querido filho, desculpa por essas palmas excessivas. Tu vales muito mais do que isso, não precisas delas, nem de tentar encontrar o meu olhar de aprovação.

Vou explicar-te, e sei que um dia hás de ler isto, porque tentarei sempre evitar recompensas e também castigos. Por palavras breves, não é tão importante assim o fim por si só, mas o caminho que se percorre, e o esforço empregue, para lá chegar. Reforçarei sempre o quanto dás de ti naquilo que fazes e se não ficar perfeito no final, não te preocupes, o teu valor é igual ao que era no início: Enorme. E terás todas as hipóteses de repetir, se essa for a tua vontade, ou até mesmo de deixar para depois, noutra altura em que te sintas mais preparado. Sem problema.

Desculpa se te amo tanto, que só a possibilidade de sentires que não tenho orgulho em ti me faça cair no erro de demonstrar, de forma errada, que ele é imenso. Aprenderei, com o tempo, a libertar-me deste sentimento de culpa que surge sempre, quando te ensino a saboreares as tuas próprias conquistas. Tenho orgulho em ti sempre, desde que soube que existes, e isso nunca mudará.

Sabes quando me apercebi de que as recompensas não te ajudam? Quando começaste a procurar as minhas felicitações meio histéricas (muitas vezes acompanhadas das tais palmas), sempre que atingias um fim – fosse a refeição terminada, a peça colocada na forma certa, o soro colocado no nariz sem reclamar… às vezes até batias palmas, tu próprio, esperando que as minhas lhes seguissem. Ficou tão claro.

E é um ciclo difícil de quebrar, este, que determina a forma como o mundo funciona lá fora. Profissionalmente, vivemos de “pancadinhas nas costas”, de gratificações pelo resultado do nosso trabalho, caso este seja bom (entenda-se, rentável) para as empresas, para as escolas (!!!). Alguém, sem alma nem nome, nos faz sentir que valemos mais, quanto melhores forem os nossos números, e menos, se estes não forem tão positivos. Acredita em mim, Vicente, tu vales MUITO, qualquer que seja o resultado numérico daquilo que produzires. Não quero com isto dizer que não deves procurar a excelência e o brio, trabalharemos sempre nesse sentido, mas fá-lo para ti, somente para ti, não o faças procurando as tais pancadinhas nas costas, procurando o diploma de melhor isto ou aquilo. Tu és muito melhor do que isso. E a recompensa será a tua auto-motivação, o teu crescimento interior, o teu papel ativo no mundo, e isso é o que te deve mover. Sem arrogância, apenas com a tranquilidade de saberes que o teu valor é enorme.

Asseguro-te que, à semelhança do que também acontece no mundo lá fora, não serás usado como montra de nada; tu não és um objeto de vaidade. Mais uma vez te digo que tenho o maior orgulho em ti, mas não esperes que coloque o que quer que seja à frente daquilo que ÉS.

Que tu te bastes.

Quanto aos castigos, fica descansado, sei perfeitamente que não te trazem qualquer benefício. Não te digo que entenderás todas as nossas opções à primeira, provavelmente não acontecerá, mas não nos vamos deixar levar por pressões externas e afastar-te da real aprendizagem. Não faremos nada de diferente por estarmos na presença de outras pessoas, por muito que sintamos reprovações. Sabes, esse é um benefício do qual muitos pais não tiram proveito: não ter que justificar nada a ninguém, não ter que (voltamos ao ponto inicial) procurar a aprovação de ninguém.

Tentarei sempre mostrar-te a razão correta. Terás que colocar sempre o cinto de segurança no carro, sim, por muito que não apeteça, pelo teu próprio bem! Não é porque vem lá o polícia e castiga! O polícia é bom, não é inimigo. O polícia trabalha para a tua proteção, não deixes que alguém deturpe este entendimento! Deverás deitar o lixo nos contentores apropriados, mas não porque alguém pode ver! É o teu dever cívico, enquanto parte da sociedade, e o teu dever humano, enquanto parte de um planeta que se quer são. Deverás ser sempre cordial, mesmo quando sentires que deves reclamar de algo; lembra-te que, do outro lado, está outra pessoa que também tem muito valor, independentemente do erro que tenha cometido.

E muitos mais exemplos haverá… tenho a certeza de que te vais lembrar de muitas situações pelas quais passámos, ao ler isto.

Sentiremos que o nosso papel de pais foi bem sucedido se, juntos, formos edificando um Ser Humano íntegro, conhecedor daquilo que o move, altruísta e pleno das suas capacidades. E, mesmo conscientes disso, não descansaremos até que seja bem claro, em ti, que tu te bastas.

 

A mamã Joana.

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Princípios do educador montessoriano #5

“Esteja sempre pronto a responder à criança que precisa de si e escute sempre, e responda, à criança que a si recorre.”

Há atitudes e gestos que, diariamente, adultos têm para com as suas crianças sem que se apercebam da dimensão do dano que lhes causam. Gestos tão simples e tão destruidores.

“Ele(a) está apenas a chamar a atenção!”…

Quando um adulto faz esta afirmação, fica claro o seu distanciamento do cerne da questão. “Está apenas a chamar a atenção” aquele(a) que precisa de atenção e essa atenção dever-lhe-á ser dada. Não há nada pior para uma criança do que se sentir insegura e ignorada. É uma forma de abandono e o abandono é um sentimento com o qual ela nunca deveria ter que lidar.

Montessori demonstrou-nos que “necessidades geram comportamentos” e, de facto, podemos utilizar esta máxima como ponto de partida para entendermos todas aquelas reações inesperadas e que, por vezes, até nos causam alguma ira, vindas dos nossos filhos. Basta que estejamos atentos e que saibamos identificar a necessidade por detrás daquele comportamento, no sentido de a satisfazer. Por vezes é fácil e o “pedido” da criança é literal e reflete o que ela necessita. Outras vezes, requer uma maior reflexão da nossa parte… talvez nos tenha escapado algo; talvez não estejamos efetivamente preparados para lidar com a situação e devamos procurar uma orientação.

Uma criança segura e que não tenha que lidar com nenhum tipo de abandono (sim, abandono ao não ver as necessidades supridas pelos cuidadores, que deveriam estar sempre lá para ela) é naturalmente uma criança mais atenciosa para com os outros e, mais importante ainda, é uma criança que tem mais facilidade em confiar, comparativamente com aquela que cresce distanciada das pessoas mais importantes para si.

Como pais, cabe-nos mostrar e deixar claro aos nossos filhos que eles são importantes. E eles sentem-se importantes quando as suas necessidades são valorizadas e satisfeitas, quando há espaço para eles num mundo em que parece que só o adulto importa e onde o orgulho e a ira se sobrepõem ao amor. Não basta dizer-lhes, isto tem que lhes ser mostrado. Não nos esqueçamos que a criança não aprende por meio de palavras, mas sim pela experiência e pelo ambiente que a rodeia. Quanto mais nós formos disponíveis para os nossos filhos, mais até eles aprenderão a esperar; porque eles confiam e sabem que, se esperarem um pouco, serão certamente atendidos.

Vamos refletir sobre isto? Vamos colocá-lo em prática neste preciso momento?

 

Até breve!

Joana

Montessori, com Gabriel Salomão

Há oportunidades que, certamente, nos surgirão muito poucas vezes na vida. Esta foi uma delas 🙂

Cinco dias de formação sobre o Método de Montessori, conduzidos pelo Gabriel Salomão, uma referência muito respeitada, um guia estrondosamente sábio, que aconteceram nas instalações do Atelier Montessori de Lisboa e na São Lourenço Montessori School.

Uma das muitas vertentes positivas desta metodologia, é permitir-nos repensar os diversos campos da nossa vida enquanto adultos e educadores, ajudando-nos a reflectir sobre as nossas ações e valores, sempre focados em encontrar o melhor que há em nós e que podemos oferecer aos outros.

Entre conteúdos científicos e conversas profundas, sinto que cheguei ao final com uma plenitude tão grande, que me sinto ainda mais motivada para percorrer este caminho de  autoconhecimento e, em especial, do verdadeiro conhecimento da criança.

Se têm o desejo e a vontade de educar os vossos filhos com coerência, amor, respeito, autonomia e liberdade, ou se simplesmente gostariam de conhecer profundamente a natureza das crianças que vos rodeiam, não deixem de seguir o trabalho do Gabriel e, claro, de ler alguma bibliografia de Maria Montessori.

Estamos perante um método de ajuda à vida

 

Até já!

Joana