Visitas à maternidade e amamentação

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O nascimento de um bebé desejado é sempre um motivo de felicidade e festa para os pais, em especial, e para toda a extensão familiar. Todos o querem conhecer, pegar nele, e dar-se igualmente a conhecer. Os quartos das maternidades transformam-se, como tal, em salas de estar de quem, ali, vai tendo vontade de ficar, e ficar e ficar…

Compreensível, até certa parte, porém, descolemo-nos daquilo que é “comum” e concentremo-nos no real interesse e necessidade do bebé. Não estaremos a pensar mais em nós próprios do que nele quando lhe impomos a presença de um excessivo número de pessoas logo após nascer? Respondam, para vocês mesmos, a esta pergunta, mas não caindo em desculpas emocionais! 🙂 Elas não nos permitem afastar o nosso egocentrismo.

O momento do nascimento é um turbilhão de novas emoções para a mãe e para o pai, e de novas sensações para o bebé. Este abandona o ambiente calmo, consistente e previsível intra-uterino e experimenta uma série de novos estímulos, os quais, de todo, ainda não consegue compreender. São poucas as âncoras que o podem ligar a um ambiente psíquico seguro – a presença da mãe, do pai e a amamentação. O bebé não precisa de mais nada nos primeiros dias de vida. E é nisto que eu e o D queremos estar focados.

Como tal, decidimos que as visitas à maternidade serão exclusivas aos familiares mais próximos e a um número muito limitado de amigos chegados. O tempo de cada visita também será curto, no sentido de influenciar o mínimo possível a rotina que estaremos, muito preliminarmente, a tentar estabelecer. Pessoas menos chegadas ao Vi terão muito tempo para o conhecer, sem que tenhamos que precipitar o excesso de estímulos à volta dele, em especial nesta fase que deverá ser o mais serena possível e durante a qual o bebé já conta com os mais diversos desafios.  🙂

Possivelmente, se pensasse neste assunto há 1 ou 2 anos atrás, sentiria que estávamos a adoptar uma postura demasiado pragmática. Talvez na altura ainda não estivéssemos preparados para assumir uma educação consciente e que respeita as necessidades do bebé, desde o 1º dia. Devemos ter sempre em mente duas palavras e questionarmo-nos acerca delas: “Contribuir ou Contaminar“? A resposta e resultado das nossas acções e decisões deverá ser sempre “Contribuir“. Contribuir, neste caso, para o desenvolvimento pleno do Ser Humano que está prestes a chegar.

É também na maternidade que começamos a trabalhar a rotina da amamentação, sendo necessário (uma vez mais) espaço e tempo, em exclusivo, para tal. Sem fundamentalismos, sou defensora da mesma até (pelo menos) aos 6 meses. Acredito profundamente nos benefícios físicos e, muito em particular, nos emocionais. O vínculo e a segurança gerados neste momento de intimidade e partilha entre mãe e bebé só podem favorecer o seu crescimento pleno. Sabendo que demora cerca de 8 semanas até que o ritmo do aleitamento esteja estabelecido e seja confortável para ambos, quanto mais nos dedicarmos e nos empenharmos em superar a fase inicial de adaptação, mais prazeroso certamente será, não caindo (como tantas vezes acontece) no erro do abandono desta prática tão precocemente.

Maria Montessori fala em dois períodos embrionários – o Pré-Natal (antes do nascimento) e o Pós-Natal (após o nascimento e até aos 3 anos), sendo este último uma fase da vida embrionária construtiva, em que o bebé precisa de amor, acolhimento e de uma necessidade física (aleitamento) satisfeita logo quando nasce, num ambiente muito especial – o colo materno. O aleitamento aparece assim como “uma necessidade subconsciente da mãe dar ao seu filho o auxílio de um completo ambiente social que lhe determine o desenvolvimento. (…) Assim sendo, a nutrição da criança e o amor que une as duas criaturas, soluciona o problema da adaptação ao ambiente de um modo natural“. (“The Absorbent Mind“).

Não deveria esta prática ser mais valorizada pelas mães dos tempos de hoje?

Até já!

Joana

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A evolução do móbile

O meu primeiríssimo trabalho manual para o quarto do Vi foi o seu móbile evolutivo. Há, sem dúvida, opções  de móbiles muito apelativos no mercado, difíceis de resistir de tão bonitos que são, porém, se nos detivermos sobre a vantagem e utilidade que os mesmos trazem para o bebé, a resposta é simples: pouca ou nenhuma. São items que apenas embelezam o ambiente e agradam aos olhos dos pais e de quem o visita.

Se queremos oferecer ao nosso bebé um ambiente verdadeiramente enriquecedor, temos que pensar no propósito de tudo o que lhe oferecemos. O móbile, nos primeiros meses, é um elemento que o ajuda na progressão da sua habilidade para explorar visualmente o mundo. O bebé desenvolve, gradualmente, o foco em objectos em movimento, a procura por um objecto em particular e a percepção de cor e profundidade. Este móbile deverá, dessa forma, ser mudado a cada 2/3 semanas para permitir, por um lado, a habituação “àquele” móbile em específico e, por outro, o acompanhamento dessa constante progressão visual.

Com o mesmo propósito  sempre em vista – o desenvolvimento pleno do meu bebé – pus mãos à obra. Como suporte, ao invés de colocar um gancho no tecto do quarto, utilizei um móbile já existente do IKEA que permite ir substituindo o conteúdo e que ainda tem a vantagem de ser portátil, não ficando restrito à área da cama (ou não tendo nós que colocar múltiplos ganchos em várias zonas do tecto da casa!). Comecei por comprar umas palhinhas (de bebidas mesmo) em papel, onde os objectos viriam a ficar presos por um fio. Para que ficassem mais bonitas, revesti-as com linha de crochet:

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De seguida, passei para o primeiro móbile – o móbile Munari. É um móbile constituído por formas geométricas brancas e pretas, planas, e por uma esfera transparente onde a luz pode reflectir. Deve ser utilizado das 3 às 6 semanas de vida e as duas cores utilizadas são aquelas que o bebé consegue distinguir nesta fase – os dois limites sensoriais que o estimularão a focar a sua atenção ininterruptamente. As formas foram especialmente concebidas para que, primeiro que tudo, o bebé distinga aquelas que são rectas e, depois, as que são curvas.

Não encontrei uma esfera transparente na altura da sua execução, porém, um coração também transparente tomou o seu lugar sem problema. Total coincidência, semanas mais tarde, quando o trabalho já estava terminado, um familiar que vive fora e nos veio visitar ofereceu-nos, entre outras coisas, a dita esfera, com o pormenor da Sophie la Girafe dentro 😀 É claro que foi imediatamente adicionada!

 

O segundo móbile deverá aparecer entre as 6 e as 8 semanas e é constituído por 3 octaedros, em papel metalizado, com cores primárias.

São agora introduzidas as três dimensões, com cores que permitem uma maior organização mental ao bebé e num material que faz reflectir a luz, atraindo a sua atenção. Os octaedros, em particular, constituem uma remota base para futuros entendimentos de aspectos relacionados com proporções geométricas, relações e padrões.

Foi de simples execução – imprimi em papel branco autocolante a forma dos octaedros, recortei-os e colei-os em folhas holográficas das várias cores. Depois foi só dar-lhes forma, tendo o cuidado de introduzir o fio de linha antes do último passo da montagem 🙂

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Entre as 7 e as 9 semanas, chega a altura de introduzir uma nova componente que permitirá mais um passo no desenvolvimento visual do bebé: as variações subtis dentro da mesma cor. O móbile Gobbi é constituído por 5 esferas de lã/ linha (ou de esferovite coberto com lã/linha), num degradê, colocadas de forma ascendente, da mais escura para a mais clara.

Comprei meadas de vários tons de azul (não são todos do “mesmo azul”, mas o efeito pretendido não ficará comprometido) e transformei-as em pequenos novelos que ficarão presos, também eles, nas palhinhas que forrei.

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Segue-se o móbile dos dançarinos, ideal para as semanas 10-12. Este móbile apresenta-se sob a forma de figuras estilizadas, feitas em papel metalizado, que se movem facilmente com qualquer circulação de ar. Uma vez mais, o reflexo que a luz fará sobre o mesmo irá captar a atenção do bebé para estas figuras constituídas por 3 partes independentes – cabeça, braços e pernas – estimulando a sua percepção e habilidade de foco visual dinâmico e em profundidade.

Foi, sem dúvida, o de mais desafiante execução. Utilizei cartolinas, onde imprimi as figuras, recortei-as e colei-as (com cola baton) a papel holográfico azul e cinza, de um lado e do outro. Falta apenas comprar fio de pescador/ nylon para ligar as 3 partes de cada uma et voilà!

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Após as 12 semanas, e porque o bebé começa a ter um propósito e a querer alcançar os objectos com as mãos, podemos colocar uma ou mais argolas de madeira, com um fio elástico, de forma a que possam ser puxadas, colocadas na boca, largadas e alcançadas novamente. Com isto, promovemos a exploração táctil, a concentração, a coordenação motora bem como o início da relação cérebro-mão (uma das grandes bases de toda a experiência sensorial e aquisição de conhecimento por parte do bebé). Estas argolas devem ser bem lisas, de material seguro e com um tamanho que não permita que as mesmas sejam engolidas.

Nesta fase, além das argolas, irei colocar no móbile as peças que o original do IKEA trazia – sólidos geométricos, em madeira, com cores chamativas 🙂

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Com isto, terminamos a saga “móbiles” e, gradualmente, começam as rocas a ganhar o papel de destaque no período de desenvolvimento seguinte. Como referi antes, o conceito de relação cérebro-mão começará a ser abordado nesta fase e dele falaremos com todo o cuidado e pormenor merecidos.

Até breve!

Joana

 

 

A caminha no chão

Consideremos um quarto “normal” de recém nascido. O que encontramos?

Normalmente tem um berço/ cama de grades, um trocador, talvez uma cadeira de amamentação para o adulto… a sensação que temos, desde logo, é a de se trata de um espaço onde o bebé não faz muito mais além de dormir. E quando não o está a fazer, é levado para locais mais movimentados da casa. Já repararam que este bebé não tem a oportunidade de passar tempo acordado no seu próprio espaço, de ficar sozinho no mesmo, nem de trabalhar a sua capacidade de foco e concentração, sem que seja distraído por outros estímulos? Para que tal possa acontecer, é necessário o ambiente certo, aquele que vai de encontro ao seu nível de desenvolvimento, naquele momento, e este quarto que comummente encontramos não é exemplo disso.

Já um quarto típico “montessoriano” fornece tudo aquilo que procuramos para tal. É um quarto com cores neutras, bonito na sua simplicidade, que transmite calma, com o máximo de luz natural possível, com lâmpadas de cores quentes/ amareladas e com detalhes e alguns brinquedos (não muitos), esses sim, com cores mais vibrantes. É um quarto cujo mobiliário não tem um preço demasiado elevado e que facilmente pode ser “transformado” para acompanhar os vários estadios pelos quais o bebé vai passando.

Divide-se, logo à partida, em quatro áreas distintas, cada uma com fundamental importância:

  • Dormir
  • Vestir/ trocar fraldas
  • Amamentação
  • Actividade

E hoje vamos centrar-nos na área do dormir.

O elemento mais conhecido por quem conhece e até quem não conhece o método de Montessori é, sem dúvida, a cama do bebé, que se apresenta no chão, permitindo-lhe o movimento ilimitado.

Já aparecem no mercado várias caminhas deste género, até em forma de casinhas (aliciantes no aspecto, claro…), porém, o que se pretende verdadeiramente é um tão-simples colchão no chão, sem elementos que possam constituir perigo e magoar o bebé quando este se movimentar e um tapete (ou outra opção adaptada) que amorteça os poucos centímetros de “queda”, que é colocado imediatamente ao lado. Este colchão, idealmente, é colocado num dos cantos do quarto, ficando apenas com dois dos lados “abertos” à sua deslocação.

As camas de grades a que estamos habituados apareceram com o objectivo de “proteger” o bebé dos perigos da casa, porém, na verdade, podem elas sim constituir um perigo quando o mesmo tenta sair e trepar as laterais – a queda, nesse caso, não é de poucos centímetros… Também a passagem de uma cama de grades para uma cama normal de criança se revela mais dificil do que passado de uma cama no chão e estando já acostumado ao facto de não existirem barreiras que circunscrevem o espaço e impedem a queda.

Para o quarto do Vi, procurámos um estrado simples o suficiente para ser fácil de colocar directamente no chão e um colchão evolutivo (o melhor possível, que neste tipo de coisas não gostamos de descurar na qualidade nem de olhar a preços), que colocámos por cima. Este colchão evolutivo (do IKEA) é constituido por 3 partes – a maior (o colchão propriamente dito) e duas mais pequenas, que vamos juntado com um sistema de fixação, à medida que a criança cresce, e que se ajustarão posteriormente a uma grande oferta de camas baixinhas que a mesma loja oferece. Como inicialmente só precisamos da parte maior do colchão, guardámos uma das outras e a terceira aproveitámos para fazer a cabeceira da cama (poderão ver na foto). Para que esta cabeceira fique com um acabamento mais bonito, comprámos um tecido ao nosso gosto (e a condizer com o quarto) e entregámo-lo às mãos de uma costureira para fazer uma forra – depois fotografo novamente quando estiver tudo pronto 🙂

Depois precisámos apenas de adquirir lençóis com elásticos, um sobrecolchão impermeável e, para tapar o bebé, utilizaremos apenas um edredon revestido por uma capa (há que ter cuidado com a utilização de edredons devido ao sobreaquecimento durante a noite! O ideal será colocar uma almofada grande nos pés da cama, por dentro do edredon, de forma a que o bebé não se possa “afundar” para dentro do mesmo). No verão, dormirá apenas com a dita capa do edredon por cima.

Ao lado da cama, e a revestir metade da área do quarto, colocámos um tapete de espuma (daqueles tipo puzzle), que amortecerá eficientemente todas as quedas. Aconselho-vos, na escolha de uma solução deste género, a terem muito cuidado com os componentes utilizados no fabrico dos mesmos. Quase todos eles têm químicos que podem ser nocivos para o bebé e o risco de sufoco é uma realidade! Nós optámos pelo único que encontrámos no mercado sem qualquer químico na composição, nem quaisquer riscos para o bebé – o Skip Hop Playspot Geo Kid Foam Tiles. Não estava disponível em qualquer loja física em Lisboa, mas facilmente o adquirimos online.

Et voilà, o Vi já tem um espaço de dormir seguro para o receber após os primeiros meses em que, durante a noite, ficará no nosso quarto, num bercinho pequeno que adquirimos para o efeito 🙂

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Até breve!

Joana