Alteração do móbile e introdução das rocas

Alcançadas as 12 semanas do Vicente, chegou também a altura de fazer mais uma alteração no móbile. A descoberta das mãos leva a que o mesmo se constitua de elementos que proporcionam a experiência o mais rica possível: elementos de cores essencialmente primárias, de madeira, que produzem som aquando em movimento e que incluem argolas. Estas argolas visam ajudar a que o bebé perceba que a mão pode agarrar e manipular objectos. Uma delas, é pendurada com fio elástico, que fará com que, a determinada altura, ele consiga levá-la à boca, aumentando a qualidade da experiência sensorial.

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Simultaneamente com a introdução do móbile, as rocas aparecem agora com especial destaque. Na verdade, em breve, irão mesmo substituí-lo, constituindo então a principal ferramenta sensorial de exploração do mundo.

O bebé descobre que aquela sensação física nas suas mãos está relacionada com as formas e movimentos que ele está a ver. Gradualmente, vai desenvolvendo uma coordenação entre a visão, o toque e o som. Vai sentido e vendo que os diferentes movimentos com a roca se refletem em sons variados: alto e baixo, agradável e incomodativo. Experimenta também as diferenças na temperatura e textura: a madeira e o metal, por exemplo, são lisos e suaves e o metal é mais frio do que a madeira. Descobre, além disso, a relação entre peso e dimensão: materiais do mesmo tamanho, mas feitos de materiais diferentes, podem variar no peso. E por aí em diante…

A determinada altura, o bebé atinge então um ponto em que já descobriu as diferentes capacidades das suas mãos e não só já ganhou a habilidade para obter informação através delas, como aprendeu a usá-las para manipular o ambiente que o rodeia. Está, agora, preparado, para explorar objectos pela casa fora 🙂

No caso do Vicente, as primeiras rocas (de madeira) foram apresentadas aos 2 meses. Ficava muito atento quando eu ou o D as agitávamos e, com ajuda, conseguiu até, numa ou outra vez, segurá-las (porém, sem qualquer intenção).

Agora, quase com 3 meses, já manifesta vontade de as agarrar e capacidade para o fazer por si só, movendo-as bruscamente (como se espera de um bebé desta idade) e batendo com elas na cara, ficando sempre surpreendido com os sons obtidos e com o impacto que, por vezes, chega a magoar!

Está a ser delicioso assistir a esta evolução tão grande, num espaço de tempo tão curto! O Vi está a crescer a cada dia e uma coisa que quero muito enquanto mãe, é nunca me arrepender por ter deixado escapar uma etapa importante sem lhe ter dado o devido valor. E todas as etapas o são! E eu e o D estamos aqui, a desfrutar e a viver em conjunto cada uma delas 🙂

 

Até já!

Joana

 

 

 

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O segundo mês

Deixei de ter um recém-nascido!

Pois é, o bebé pequenino, com vontades e necessidades ainda pouco expressas, cresceu! Não me refiro ao tamanho propriamente dito, porque continua pequeno (embora a escalar veementemente alguns percentis 😀 ), mas a uma série de evoluções que o tornam, agora, num ser fascinante, com acções intencionais e uma graça enorme em tudo o que faz 🙂

O primeiro sorriso “de verdade” deu-se no início deste segundo mês e marcou toda uma nova forma de relação entre nós, pais, e o Vicente. As idas ao trocador passaram a ser uma diversão e uma oportunidade de comunicação muito mais eficaz! Aqueles desconfortos com o pós-banho e mesmo com o acto de despir para trocar a fralda deixaram de existir, pelo simples facto de o Vi já conseguir entender e moldar o seu comportamento perante diálogos apaziguadores e serenos da nossa parte (com mil sorrisos pelo meio, sempre!).

 

E o olhar? Que diferença no olhar! Passou a seguir-nos para todo o lado, a seguir a Camila (nossa cadela), bem como tudo aquilo que lhe chamava a atenção. E começou a procurar o nosso próprio olhar, terminando ou num franzir de testa (aquela expressão de pensamento profundo de que vos falei num post anterior) ou numa risada 🙂

Outro marco muito importante, e do qual vos quero falar depois com muito mais pormenor, foi a passagem para o próprio quarto durante a noite. Fizemo-la no dia 6 de Junho, altura em que o Vi fazia cerca de um mês e meio. Gostaríamos que tivesse acontecido logo no final no primeiro mês, mas confesso que alguns receios prevaleceram. Precisámos de mais uns dias para “garantir” (nunca é garantido, na verdade…), que as grandes regurgitações não aconteciam com tanta frequência durante a noite.

Foi também nesta altura que os intervalos entre refeições passaram de 3h-3h para 4h-4h ou mesmo 5h-5h. Mantivemos o esquema da noite: até às 06h00, o D assegurava as mesmas e, a partir daí, entrava eu. Foi um mês bastante cansativo, muito porque o D começou a trabalhar. Por um lado, estas noites com uma grande privação de sono desgastavam-no enormemente, por outro, os dias quase inteiros passados sozinha com o Vi também me levavam a uma certa exaustão. Mas nada que uma boa equipa, com membros motivados e felizes, não aguente!

 

No que respeita à alimentação propriamente dita, mantivemos o padrão do mês anterior. O bebezão continua quase exclusivamente a beber leite materno. Retiro-o com a bomba, três (por vezes, quatro) vezes por dia, assegurando 5 dos 6 biberões diários. É aborrecido, é verdade, e priva-nos de alguns planos mais ambiciosos de saídas de casa. Ainda assim, é por um bem maior e é isso que me move e me faz continuar com o mesmo afinco. Cada dia com o meu leite, é um dia a mais com todas as vantagens que o mesmo traz consigo. Uma das últimas leituras que fizemos foi a de alguns artigos e estudos OMS, relativamente a esse mesmo tema. Dêem uma espreitadela e ficarão surpreendidos com a quantidade de relações entre aleitamento materno e uma série de aspectos positivos vida fora!

Neste mês, passámos também por 2 móbiles diferentes – o dos octaedros (o Vi delirava com ele!) e o Gobbi. Foi mais desafiante captar a atenção sustentada para este último, tendo acontecido mais perto do final do mês e com alguma “ajudinha” da nossa parte, movendo as bolinhas de lã de uma forma mais “entusiasta” 🙂 Normalmente, o tempo dedicado ao móbile acontecia da parte da manhã, altura em que a disposição e energia do Vi o permitiam durante um período mais alargado. Aproveitávamos também, de seguida, para o colocar de barriga para baixo, exercitando os músculos do pescoço.

 

Outra coisa que introduzimos e tornámos algo rotineira foi a música, em especial a música clássica. No Spotify encontrámos uma playlist maravilhosa – Mozzart for Babies e, desde então, tem sido a banda sonora da nossa “ginástica intestinal” (como gostamos de a chamar) 🙂 bem como de alguns momentos de relaxamento durante o dia.

Quanto aos passeios fora de casa, tornaram-se um pouco mais frequentes e, além do carrinho de bebé, passámos a utilizar um porta-bebés (da ergobaby que, desde já, recomendo!) que se revela uma opção bem mais prática e funcional para pequenas distâncias. No nosso caso, optámos pelo modelo Adapt.

 

 

E o problema de resumir o mês anterior estando já no final da primeira semana do mês seguinte é querer desenfreadamente contar-vos novidades e novas conquistas recentes! Mas vou aguentar-me e guardá-las para posts posteriores 🙂

 

Até já!

Joana

Voltando aos brinquedos…

brinquedos montessori

O tema “brinquedos”, na ótica de Maria Montessori, daria aso a parágrafos e parágrafos de conversa (mais ainda do que aqueles que vos proponho hoje :):) ). Na verdade, todo o desenvolvimento do ser humano advém da sua interação com o ambiente e os materiais que o rodeiam, desde o nascimento.

Já referimos anteriormente algumas formas de ajudarmos o nosso bebé a ter uma experiência sensorial rica, nomeadamente através da visão e tacto – como acontece quando criamos um móbile adequado e evolutivo. Este móbile é seguido da introdução das rocas, que já oferecem a possibilidade de desenvolvimento de uma maior coordenação mão-cérebro (ou mão-mente), possibilitando igualmente uma experiência auditiva.

Até aos 6 meses de idade, devemos assim oferecer ao bebé brinquedos que o ajudam a desenvolver esta coordenação da visão/ mão/ audição-cérebro e, indirectamente, a percepção da permanência dos objectos, bem como da causa-efeito. No post “brinquedos e minimalismo” poderão ver alguns bons exemplos, em especial nas prateleiras superiores da estante do quarto do Vi 🙂

A selecção destes brinquedos é, assim, tão importante como qualquer outro elemento do “ambiente preparado” para o bebé, seja a cama, o espelho, a estante baixa, a luminosidade… e tendo muito cuidado com a mesma, estamos, inevitavelmente, a mostrar ao nosso filho o quanto ele é importante para nós.

Uma criança com menos do que 6 anos (idade a partir da qual não me irei focar, para já) não tem ainda desenvolvida a sua capacidade de pensamento abstrato, apresentando, por sua vez, uma mente absorvente de tudo o que faz parte da realidade que a rodeia. Desta forma, até aí, todos os objectos baseados na realidade são úteis no processo. O problema aparece quando lhe são oferecidos brinquedos ou objetos que remetem para a fantasia ou lhe transmitem uma falsa ideia acerca do mundo – monstros, coelhos que falam, ursos que são vermelhos… Se a criança pequena não consegue desenvolver uma base sólida na formação da sua mente racional (ao ser colocada perante cenários nos quais ainda não consegue distinguir a realidade da ficção), aos 6 anos ver-se-á limitada no seu poder de imaginação e abstração. Como dizia Maria Montessori no livro The Advanced Montessori Method: “Como é que se pode desenvolver a imaginação das crianças através de algo que é o seu oposto, ou seja, a nossa própria imaginação? Somos nós quem imagina, não eles. Eles acreditam, não imaginam. A credulidade é, sem sombra de dúvida, característica de uma mente imatura (…). Assim sendo, será a credulidade aquilo que queremos desenvolver nos nossos filhos?”.

Outro obstáculo na escolha dos brinquedos mais adequados a oferecer ao bebé/ criança é a quantidade de opções que existem no mercado, bem como o número de acções que um mesmo objecto pode executar, retirando a possibilidade de ser a criança a autora daquilo que quer fazer com ele. Assistimos a cenários em que os pais (e até avós) são levados a consumir muito mais do que seria necessário e ideal, acreditando que, dessa forma, estão a demonstrar um amor maior por aquela criança. Na verdade, estão a passar-lhe a mensagem errada – a de que as pessoas gostam delas se e quando lhes dão “coisas” – quando elas, na realidade, apenas conseguem adorar uma boneca, um peluche e alguns (poucos) brinquedos de cada vez. Pode, à primeira vista, parecer “rebuscado”, mas esta experiência de ter poucos (e bons) brinquedos e “aquele” brinquedo de referência num determinado momento, constitui a base para a vivência adulta, onde precisamos de aprender a manter e estimar uma esposa/ marido, uma família, uma vida, em vez de fantasiarmos que podemos ter todas.

A introdução de electrónicos, como tablets, telemóveis ou consolas é mais um exemplo de obstáculo ao desenvolvimento. Estes objectos não respondem à criança com sentimentos iguais aos que receberia por parte de um ser “real”. As crianças podem tratar as personagens de um jogo da forma como entenderem, não necessitando de ter consideração por elas; não há qualquer feedback que lhes permita desenvolver sentimentos, cuidado e capacidade de resposta, como aconteceria se estivessem a lidar com outro ser humano. São objectos que ocupam o tempo que poderia ser dedicado a uma interação real. Constituem, dessa forma, uma base para o egocentrismo.

Que tipo de brinquedos deveremos, então, seleccionar e que poderão ajudar no desenvolvimento pleno do nosso bebé/ criança?

Antes dos 3 anos, todos os que possam ser utilizados de forma independente e que permitam a interação com outras pessoas, bem como a compreensão do mundo. Refutamos, assim, todos os que representem a fantasia de uma mente adulta, ao invés de fomentar a capacidade criativa da mente da criança. Também aqueles brinquedos chamados de “educativos” – caixas com rodas, luzes, sons, botões aleatórios – não têm qualquer benefício, pois apenas entretêm a mente, não envolvendo qualquer possibilidade de pensamento por parte da criança.

Um simples urso de peluche, idêntico à imagem do urso na realidade, pode ser um ótimo exemplo de brinquedo, ou mesmo uma boneca (ambos, na vida real, são seres com emoções e reacções que podem ser imitadas). A criança pode brincar com a boneca, por exemplo, simulando acções que acontecem consigo mesma no seu dia-a-dia: dando-lhe banho, vestindo-a, alimentando-a, colocando-a para dormir… e esta “brincadeira” repetida desenvolve a sua própria capacidade de se vestir a si mesma, tomar banho, alimentar-se sem ajuda. A boneca aparece assim como símbolo de si mesma ou de outro membro da família.

Também as actividades da vida prática podem ajudar no desenvolvimento de um pensamento mais profundo e da concentração, factores importantes na construção de “cenários” para as suas brincadeiras. Um exemplo de uma actividade deste género é a de cortar cenouras ou outro vegetal – um conjunto de tarefas estruturadas, com princípio, meio e fim, que induz ao pensamento ordenado. Estas actividades que envolvem experiências reais do mundo real são a chave da brincadeira imaginativa da criança.

Uma casa de bonecas, por exemplo, também pode resultar em horas de criatividade e até na oportunidade de aprender como o mobiliário se distribui numa casa (a ordem é, uma vez mais, trabalhada) – a cama no quarto, as cadeiras e a mesa na sala de jantar, o sofá na sala de estar… Outro bom exemplo são os modelos realistas em miniatura de animais que existem nos tempos de hoje. Estes podem ser dispostos em cestos diferentes, separados por domésticos/ selvagens, por famílias dentro da mesma espécie, por localização geográfica… e podemos aproveitar para desenvolver a linguagem da criança, pegando num dos cestos e ensinando-a acerca do nome de cada animal, enquanto vão sendo dispostos, cuidadosamente, lado a lado.

Mesmo sólidos de madeira coloridos e carrinhos são benéficos para crianças dos 15 meses aos 3 anos, se dermos alguma orientação e propósito à actividade. Podemos ter num cesto 3 carrinhos com cores primárias – vermelho, azul e amarelo – e ir retirando, um a um, indicando o respectivo nome – “carro vermelho”, “carro azul”, “carro amarelo” – à medida que os vamos dispondo lado a lado (tal como fazemos na actividade com os animais). Noutro cesto, podemos colocar 3 veículos diferentes com a mesma cor – carro, camião, mota – e repetir o exercício anterior, desta vez focados apenas no tipo de veículo.

O grande propósito desta brincadeira não é mais do que dar à criança mais uma chave para a descoberta do mundo que a rodeia. Um aspecto que devemos ter, contudo, em consideração, é a forma como vamos apresentando os materiais – tendencialmente, caímos no erro de substituir uma afirmação como “isto é um carro azul” por algo como “o que é isto?”. Esta pergunta representa um teste de conhecimento, não um conhecimento oferecido por nós, pais, à criança – e os testes (que nos são tão incutidos desde cedo no ensino regular…) são totalmente inapropriados para crianças pequenas!

 

E parece que me alonguei bastante, não é?

É um tema ainda tão pouco debatido e tão importante no dia a dia dos pais e futuros pais, que não podia deixar de tocar em vários aspectos que a própria Maria Montessori entendeu como cruciais. 🙂

Voltamos a falar em breve!

Joana